quarta-feira, maio 31, 2006

José Gomes Ferreira e a Música Portuguesa

Ouvi há dias algumas músicas do século XVIII português gravadas pela Fundação Gulbenkian e fiquei atónito com tanta beleza, até hoje secreta, guardada a sete chaves em arquivos de traças. Estranho país este!, de parvos, de imbecis, de analfabetos, de fanáticos, de pitosgas, de torquemadas covardes... mas em que existiram sempre, através dos séculos, meia dúzia de artistas de eleição a fazerem versos, a pintarem, a escreverem música (sim, até música!) para ninguém! Ouviram? PARA NINGUÉM!

Lisboa, 12 de Abril de 1967
in Dias Comuns II, "A Idade do Malogro"


O escritor José Gomes Ferreira (1900 - 1985) foi, na sua juventude e primeira idade adulta, um compositor de talento. Algumas das peças que compôs nas décadas de 1910 e 1920 foram, aliás, dadas a conhecer ao público de hoje em dia através de apresentações públicas nas cidades do Porto e de Lisboa por ocasião das comemorações do centenário do seu nascimento. Assim, é curioso registar este curto mas contundente testemunho. Que sirva para a reflexão tão necessária sobre o projecto cultural que pretendemos para Portugal! Só com uma mudança a nível cultural e de atitudes poderemos almejar progressos efectivos e eficazes a outros níveis. Poeta militante, hoje e sempre, estás entre nós!

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terça-feira, maio 09, 2006

Psicadelismo Magrebino

Em 1968, é publicado o primeiro single do Quarteto 1111, depois de uma carreira iniciada no ano anterior com o histórico EP A Lenda de El-Rei D. Sebastião. A este disco, tinham-se seguido outros dois de igual formato e, tal como o primeiro, fervilhantes de criatividade e originalidade nas propostas musicais que apresentavam. O rock psicadélico que abraçava todo o mundo parecia, assim, estender-se plenamente a Portugal. Não que o Quarteto 1111 fosse caso único - outros exemplos havia nesses anos de 1967 e 1968, como a Banda 4, os Chinchilas, o Conjunto Hi-Fi, o Conjunto João Paulo, os Ekos, o Grupo 5, os Jets, o Quinteto Académico, os Sheiks, os Tubarões ou os cantores Daniel e Nuno Filipe, citando só os mais importantes - mas representava, sem sombra de dúvida, a consciencialização mais encorpada desta tendência musical no nosso país. Posteriormente, surgiriam outros grupos de semelhante valia, mas em 1968 só o Quarteto 1111 poderia arriscar "lançar às feras" uma composição como Ababilah. Lado B de Meu Irmão - uma canção de contornos mais "canónicos" e alvo, aliás, de versões por parte de José Cheta (em 1972) e dos Irmãos Catita (em 2002) - este tema é uma viagem àcida às terras do norte de África, oferecendo uma panóplia de sons distintos e estranhos à música ocidental. Instrumentos exóticos, processos que em tudo se assemelham - à nossa modesta escala - aos utilizados por George Martin e pelos Beatles em Tomorrow Never Knows (1966), vozes imperceptíveis, experimentação jazzística - tudo isto se conjuga para a criação de uma obra musical fora de série. Infelizmente, Ababilah tem andado arredado de todas as edições em CD da obra do Quarteto 1111 - aguardemos, pois o futuro poderá reservar-nos ainda surpresas, já que para o ano se comemoram os 40 anos de A Lenda de El-Rei D. Sebastião.


1968

Columbia / Valentim de Carvalho
45 ML 244

1. Meu Irmão
(José Cid)
2. Ababilah
(Quarteto 1111)

José Cid (voz, teclas)
António Moniz Pereira (guitarra)
Mário Rui Terra
(guitarra baixo)
Michel (bateria)

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