quarta-feira, março 29, 2006

Mário Viegas Total

Ontem tive uma grata notícia: através do jornal Público, vai ser dado à estampa um trabalho da autoria de José Niza que compila em 12 volumes a carreira e a vida de um dos grandes actores portugueses da segunda metade do séc. XX. Falo de Mário Viegas, que, dez anos após a sua morte, tem assim direito a uma homenagem - póstuma... - de grande valor e onde a qualidade da investigação se encontra aliada ao saber e às vivências do Homem e Músico que é José Niza. No entanto, há ainda algo mais que não deverá fazer ninguém perder esta colecção: com cada livro, surgirá um CD que recupera a discografia completa de Mário Viegas. Esta, gravada na sua quase totalidade para a etiqueta Orfeu, de Arnaldo Trindade, iniciou-se em 1969 - com o EP Mário Viegas Diz Poemas, onde o declamador é acompanhado musicalmente por Fernando Martins - e conheceu o seu derradeiro momento em 1990, com Poemas de Bibe: Grande Poesia Portuguesa Escolhida Para os Mais Pequenos - um trabalho publicado pela UPAV e co-assinado pela também actriz Manuela de Freitas. Entre um e outro, ficam recriações históricas de grandes poetas portugueses, como Daniel Filipe, Mário Cesariny, Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Eugénio de Andrade, Manuel Alegre, António Gedeão, Alexandre O'Neill e tantos outros; e de alguns estrangeiros, como Bertolt Brecht ou Vinicius de Moraes. É de realçar que nesta colecção se compilam, também, gravações inéditas, que por razões de ordem vária não foram publicadas no seu tempo. De fora, ficaram apenas as participações em Marginal (1981), de Luís Cília, Cantos da Borda d'Água (1984), de Pedro Barroso, Lavrar em Teu Peito (1985), de Janita Salomé, e Corsária (1988), de Né Ladeiras - que, a meu ver, deveriam ter sido incluídas nesta integral - além de participações menos significativas em discos de Júlio Pereira e de Shila.

Impossível perder. Impossível passar ao lado. Mário Viegas continua vivo na sua arte de diseur e esta homenagem de José Niza e do jornal Público vem provar a todos isso mesmo.

Rifão Quotidiano

Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece

Mário-Henrique Leiria in "Novos Contos do Gin", Lisboa, Editorial Estampa, 1973

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