domingo, março 12, 2006

Cantando Pessoas Vivas

Em finais de 1974 foi publicado o último LP gravado pelo Quarteto 1111, Onde, Quando, Como, Porquê, Cantamos Pessoas Vivas - Obra-Ensaio de José Cid, preenchido por uma composição única que ocupava os dois lados do vinil. Musicalmente, o grupo nunca tinha soado tão próximo do rock progressivo de uns King Crimson ou das tendências mais folk de uns Renaissance, com José Cid e os seus companheiros a construirem harmonias ora mais violentas ora mais doces. Se já em trabalhos anteriores o Quarteto 1111 comprovara que a sua escrita e competência musical podia abarcar sem problemas estes extremos, é preciso talento de sobra para construir uma obra de trinta minutos em que não é dada qualquer trégua aos instrumentos (nem ao ouvinte, refira-se). Para isso contribui inegavelmente a qualidade dos textos poéticos musicados, na sua maioria de José Cid. No entanto, um deles é uma adaptação de um poema de José Jorge Letria publicado no início desse mesmo ano de 1974 em A Arte de Armar.

O que aqui proponho, pois, é um simples exercício de comparação entre os dois textos. Apesar de as diferenças não serem em quantidade, não deixam de ser curiosas.


É Por Aqui Que Se Começa......................................Cantamos Pessoas Vivas

É por aqui que se começa:.........................................É por aqui que se começa
Pelas palavras simples................................................ Pelas palavras simples
Pelas pessoas vivas.......................................................Recusando a amargura
Recusando a amargura................................................ Nas margens do poema
Nas margens do poema................................................Pelas pessoas vivas

É por aqui que se com
eça...........................................É aqui que se começa
Pela ânsia de respirar
..................................................Pela fúria de começar
Com a voz em liberdade
.............................................Com a voz em liberdade
Sem estilhaços no olhar
..............................................Sem muralhas no olhar
.........................................................................................Cantando pessoas vivas

É por aqui que se começa
...........................................É por aqui que se começa
Pela fúria de começar
..................................................Pela fúria de começar
Usando palavras simples
..............................................Usando palavras simples
Cantando pessoas vivas
...............................................Cantando pessoas vivas
Mãos fechadas rente ao mar
......................................Ensinando-as a pensar

E depois de começar
....................................................E depois de começar
Embarcamos na canção
................................................Embarcamos na canção
Sem pompas nem grandezas
......................................Sem pompas nem grandezas
recusando a salvação
...................................................Com o povo no coração

Para isso serve a canção
.............................................P'ra isso serve a canção
Navalha de corpo inteiro
...........................................Navalha de corpo inteiro
Para dar o golpe certeiro
..........................................P'ra dar o golpe certeiro
Em quem lhe nega a razão
........................................Em quem lhes nega a razão

Acabar também é simples;
....................................... Acabar também é simples
Mais simples que começar:
.......................................Mais simples do que começar
Desenhamos um país
..................................................Desenhamos um país
Com o máximo rigor
..................................................Com o máximo rigor
Sem pessoas nem fronteiras
.....................................Sem pessoas nem fronteiras
E pomos-lhe no centro
..............................................E pomos-lhe lá dentro
As palavras derradeiras
.............................................Palavras certeiras
Para isso serve a canção
............................................Cantando pessoas vivas
Para vencer a confusão.............................................É por aqui que se termina
......................................................................................Pelas palavras simples
......................................................................................P'ra isso serve a canção
......................................................................................Defininindo a situação
......................................................................................Cantando pessoas vivas

[versão publicada em livro]...............................................[versão gravada em disco]

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Comments:
É engraçado que o nome deste disco costuma vir truncado.

Well, this is the first time I've completely failed to find a tracklisting for something; even vinyl-only obscurities burnt to CD by some kind trader usually come with one, but this time, my supplier is working from a (very good, as it happens) vinyl burn done for him by someone else, sans tracklisting. Onde Quando Como Porquê Cantamos Pessoas Vivas (often known simply as Cantamos Pessoas Vivas) was Portuguese outfit Quarteto 1111's last album, used as a launchpad for his solo career by keys man José Cid, and it's effectively a late-period psych/prog album, maybe like a proggier and gutsier Moody Blues, though don't let that put you off if you're not a Moodies fan. The album consists of two (short) side-long tracks, so it's possible the tracklisting is simply 'parts one and two', especially considering the way side one fades out, with side two fading in at the same point. If there's ever an official CD release for this, it'd be nice if the two sides could be correctly rejoined, thanks...

http://www.planetmellotron.com/reviewsq.htm

http://www.planetmellotron.com/images/quarteto1111-onde.jpg
 
A fazer uma busca no google acabei por encontrar estas páginas

http://cidmania.blogspot.com/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Cid


Parece-me que o tema que os Fat Freddy tocavam ao vivo chamava-se a "Homenagem Que Faltava". Nos diapositivos passavam várias imagens entre as quais a famosa da NG.
 
É verdade, o título deste disco aparece muitas vezes truncado ou errado mesmo. Qual é o tema dos Fat Freddy que referes? Essa referência não me é estranha.
 
O tema dos Fat Freddy não faz parte do disco de estreia deles mas era um dos temas tocado ao vivo.
 
E o tema era uma homenagem ao José Cid, é isso? O diapositivo que referes não estou a ver qual é. Abraço
 
De volta ao palco principal, era a vez dos Fat Freddy, uma das mais peculiares bandas que assaltam o panorama musical português, pisar o palco das noites Ritual Rock. (...) Ainda houve tempo para uma canção dedicada a José Cid, acompanhada de projecções – presença constante durante todo o concerto - a rigor.(in bodyspace)

Eu chamei-lhe diapositos (slides) já o autor do texto acima transcrito chamou-lhe projecções. No caso da canção dedicada a JC foi dando imagens relacionadas com o imaginário JC entre elas a famosa fotografia que saiu na "Nova Gente".


a juventude que se revê na obra do Mestre não tem preço. Estes jovens que rejuvenescem as canções, aquelas grandes canções, canções que marcaram vidas, que ficarão para sempre, devem ser recompensados. Falo de nomes como Fat Freddy, Fuse, entre muitos outros, nomes que reconhecem o contributo de José Cid para o nosso país. Artistas que sabem reconhecer outros artistas. Aprendizes do grande. Do Mestre. Do incomparável.
(in clubedefansdojosecid.blogspot.com)
 
Olá, Carlos. Obrigado pelo teu apoio e parabéns pelo Rascunho! Esta semana tem sido difícil, mas hoje conto colocar algo novo à noite. Abraço
 
Olá João!
Só queria mandar-te um sorriso e votos de bom fds! :o)
 
Luísa! Espero que esteja tudo bem aí pela bela cidade invicta! Beijo e bom fim-de-semana para ti também, com saudades.
 
man... devias postar estas preciosidades no rapidshare.
P )»
 
Consegui ouvir o tema do Fuse mas não conheco o tema de José Cid que foi usado. O nome do tema de Fuse chama-se "Tudo O Que Tenho Em Mim" e usa no refrão "Tudo o Que Tenho em Mim Para Vos Dar são pedaços de ....". No início do tema: "o que seria de ... sem poesia". Não apanhei lá muito bem mas deve ser tudo retirado da mesma canção. Na Revista BLITZ deste mês refere que José Cid aparece no disco dos Mercado Negro.
 
Contam com a participação de José Cid no tema «Quem é o herói». Como surgiu a ideia?

Quando estávamos a preparar o disco achámos que precisávamos de uma voz diferente para puxar mais este tema. Falou-se logo no José Cid e ele generosamente acabou por aceitar. Para nós foi uma honra porque ele é um nome incontornável da música portuguesa.

in expresso
 
Obrigado pelas referências! Por acaso, comprei a revista Blitz (ainda é estranho dizer isto!) e escapou-me isso!
 
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
 
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